sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Entrevista - Editora Aliança Espírita


Entrevista para a Editora ALIANÇA ESPÍRITA (2003)
Ref: Livro Raio X do Livro Espírita

— Quais livros seus já foram publicados?

a. Obras psicografadas:
1. O Prisma das Mil faces *
2. O Quartel e o Templo *
3. Tráfico – Doloroso Resgate *
4. Sempre há uma Esperança
5. Infidelidade e Perdão
6. Transplante de Amor
7. Os Tecelões do Destino
8. Saara – Palco de Redenção
9. Almas em Chamas
10. Jogo – Mergulho no Vulcão
11. Escravos do Ouro
12. Grandes Pontos em Pequenos Contos
b. Obras de própria lavra:
13. Tóxicos: Duas Viagens *
14. Sexo: Sublime Tesouro *
15. Animais, Nossos Irmãos
16. Fragmentos da História – Ótica Espírita
17. Genética e Espiritismo
18. Centro Espírita: Pronto-Socorro Espiritual *
19. Sonhos – Viagens à Alma
20. Animais – Amor e Respeito.
                    (Todas essas obras já foram e estão sendo reeditadas)
21. Raio-X do Livro Espírita
22. Genética... Além da Biologia *
                    (*) – Obras publicadas pela Editora FONTE VIVA.

1. O seu livro Raio-X do Livro Espírita é interessante e útil. Bem no início você já esclarece não se tratar de um manual de como psicografar, no entanto, ao narrar o seu desenvolvimento mediúnico pessoal, nos dá uma valiosa aula prática de aprendizagem psicográfica. O que vc pode nos dizer sobre isto?
— A mediunidade não é passível de ser obtida num curso, com direito a “diploma”. Por isso, julguei prudente logo de início registrar a citada advertência, de forma que o livro não viesse a gerar enganosa expectativa em eventual leitor interessado no tema.

2. Deu para perceber a sua paciência, a sua persistência, a sua humildade, a sua fé, a sua esperança, o que é um bom exemplo para os candidatos à psicografia. Na sua opinião, quais são as qualidades necessárias para o exercício desta mediunidade e como conquistá-las?
— Das cinco virtudes apontadas, desmereço quatro. De verdade verdadeira, só sou mesmo persistente. (Mas sei que até esse comportamento tem que ser administrado com cuidado, pois pode facilmente descambar para o fanatismo ou para a teimosia...).
Qualidades do médium psicógrafo: esse médium precisa ter um permanente comprometimento com a sinceridade: Kardec elucida, com detalhes, em “O Livro dos Médiuns”, que só mesmo multiplicados tempos de dedicação, estudo e desprendimento poderão levar a pessoa à certeza de que está sendo intermediária entre o Plano Espiritual e o material. A propósito, lembro que o maior psicógrafo de todos os tempos — Chico Xavier —, nos primeiros tempos de sua augusta mediunidade, passou pela fase de “treinamentos” (melhor será dizer: estabelecimento da sintonia com os Espíritos aos quais serviria).
 
3. De um modo geral, como você vê o conteúdo intrínseco dos livros espíritas que estão sendo escritos e editados atualmente?
— Não sou exegeta, mas também não sou folha solta na correnteza literária espírita. Opino que, modo geral, é muito bom que novos médiuns e novos autores estejam surgindo no horizonte terreno, com expressiva quantidade de obras. Isso é altamente salutar. Não obstante, a mim me parece que está havendo pressa em editar os livros espíritas e isso é prejudicial à qualidade da mensagem neles registradas, pois todo e qualquer livro assim é como uma fruta sem cultivo (colhida antes do tempo), que tende a desagradar ao paladar. No caso, o “cultivo” do livro seria representado por experientes análises e revisões.

4. Como você vê os romances espíritas e em geral? Você acredita que há obras que mais atrapalham do que ajudam os leitores não-espíritas?
— Vejo (leio) os romances de forma agradabilíssima. Sou romântico, por isso suspeito para opinar com total isenção. Mas não diria que esse ou aquele romance “atrapalha” ao não-espírita, ou ao espírita neófito. O que acontece é que os livros constituem alimento para a alma e ninguém lê apenas um, tanto quanto ninguém almoça só uma vez na vida... Dessa forma, lendo um romance aqui, outro ali, mais um acolá, um outro mais além, o leitor necessariamente formará um quadro mental das sublimes verdades que os romances espíritas ofertam: Muito de resignação! Muito de Esperança! Muito da Justiça Divina! Muito de indução à auto-reforma! Muito de Amor...

5. Sobre a formação dos médiuns, assunto importantíssimo em todos os tempos e ambientes, o que mais o senhor poderia nos dizer, apesar de seu livro esclarecer bastante o assunto?
— É muito difícil um médium exercer a tarefa mediúnica sozinho, principalmente no início. Talvez a primeira providência de uma pessoa que sente de forma evidente que a psicografia “talvez-mediunidade” esteja visitando-o, a primeira providência, dizia, será eleger ou formar um grupo amigo de igual intenção à sua e juntos passarem a estudar com afinco obras espíritas sobre mediunidade, iniciando inexoravelmente pelo “O Livro dos Médiuns”. Mas atenção: não é ler os livros. É estudá-los. Se possível, em grupo, pois das diversas reflexões dos companheiros, irão se concretando na mente desse talvez-médium as nuances básicas:
          a. físicas:  pontualidade, assiduidade, dedicação;
          b. morais: conhecimento do Espiritismo, das Leis de Deus, do Evangelho de Jesus.

6. A produção livreira, no Brasil, sempre foi boa e, após a edição deste seu livro, certamente melhorará, no tocante aos temas espíritas. Como você relaciona sua obra dentro desse universo?
— Estarei recompensado se esse humilde trabalho puder auxiliar a alguém. A edição desse livro pela Aliança Espírita sinaliza que muitas pessoas estarão ajuizando o que escrevi e nesse pequeno universo de leitores, sempre haverá aquelas que de fato relembrarão algum apontamento ou então dele poderá vir a fazer uso próprio.

7. Não acha que está havendo alguma vulgaridade e banalidades nas publicações por causa do concorrência de mercado?
— Sou leitor assíduo de periódicos espíritas (jornais, revistas, sites na Internet, etc.). Não são poucos os editorialistas e mesmo jornalistas avulsos que fazem críticas ao volume de obras espíritas expostas hoje no mercado livreiro. Respondendo objetivamente à pergunta digo que de fato existem livros que, sobre serem altamente repetitivos, quase que cópia, causam pena pela falta de esmero na diagramação e revisão literária e ortográfica. Afirmo, porém, que isso é minoria e não regra geral.
Nessa questão de reprovar uma obra e dizer com todas as letras qual o título, quem é o autor, qual a Editora, o risco é de tal monta, que ninguém assim procede.
O temor de ressuscitar o famigerado “Index Librorum Prohibitorum”, causa arrepio em 99,99% dos críticos espíritas. Aí, o que temos são sempre críticas veladas, com cortinas descerradas só quando na intimidade, a dois.
Eu próprio tive amarga experiência com meu primeiro trabalho psicográfico que, afinal, logrou ser publicado. Jamais me esquecerei do quanto uma crítica ácida me magoou, à época. Hoje, com a visão prospectiva que o tempo oferece, vejo que a crítica tinha mais fundamento do que qualquer intenção maldosa, pois precisei mesmo realizar várias correções.
Alongando um pouco essa ardente questão, repito que o crítico deve ser sincero e enérgico, mas na hora de expressar o que pensa, tem que ser altamente caridoso e incentivador, jamais acidamente um dinamitador.

8. Isto não é para a Doutrina Espírita em si? Como o leitor espírita pode se precaver aos abusos?
— É impossível alguém saber se um livro contém ou não abusos, sem o ler.
Jesus ofertou excelente vacina, quando alertou que pelo fruto (provando-o) se conhece a árvore... Naturalmente, o Mestre se referia ao comportamento moral, mas sem esforço podemos aplicar o mesmo princípio a todos os eventos e produtos realizados pelo homem. Para opinar sobre qualquer assunto, é preciso primeiro conhecê-lo.
Em outras palavras: quando um médium psicógrafo ou um autor encarnado mantém conduta dentro da moral cristã, é certo que, no primeiro caso, ofertará boa filtragem mediúnica ao Autor espiritual, e no segundo, terá a jamais negada companhia de Espíritos bondosos que o inspirarão, e então, aí teremos não apenas uma, mas várias boas obras. Ressalvamos que ambos — médiuns e autores —, por humanos, hão de enfrentar períodos existenciais difíceis, com reflexos na sua produtividade, mas é oportuno nos lembrarmos também que por mais densas que sejam as nuvens, o Sol está e volta sempre a brilhar...

9. Qual é sua opinião sobre a produção espírita de Edgard Armond?
— É-me sumamente prazeroso falar sobre o Comandante Armond.
Conheci-o pessoalmente, embora em passant, quando residia em São Paulo.
Pessoa amável, fraternal, mas expressando grandeza espiritual e serenidade íntima.
Os livros que nos ofertou são tantos que imagino que pouquíssimas pessoas os terão lido todos. De minha parte, seguramente li cerca de vinte deles. O primeiro, foi “Passes e Radiações”, que até hoje é por mim citado nos “cursos para passistas” que realizo.
O “Os Exilados da Capela” causou-me tamanho e tanto impacto que até hoje ainda agita as perquirições da minha alma quando, todas as noites, ao olhar para as estrelas e, como dizia Bilac, “mudo de espanto”, ausculto o que elas podem me dizer...
Em livros que escrevi, quando o assunto era pesquisa, sempre me louvei em obras do Comandante Armond e disso fiz constar nas respectivas bibliografias.
No Plano Espiritual, por certo, há um “panteão” de Espíritos que, quando encarnados, dedicaram suas vidas à divulgação das coisas de Deus, dos ensinos de Jesus, das reflexões  de Kardec, e suas próprias. Com certeza Edgard Armond tem assento lá!

10. Já tem mais algum livro engatilhado? Sobre o que se trata?
— Concluí por esses dias uma nova obra, trilhando pelo patamar científico do Espiritismo, sobre o palpitante tema da Genética, com enfoque especial para a biotecnologia: clonagem, células-tronco, embriões congelados, etc.
Em 1996, a Federação Espírita Brasileira publicou o nosso “Genética e Espiritismo”, à época, o primeiro livro espírita integralmente sobre esse tema. Decorridos esses sete anos, tantos foram os avanços da Ciência, em particular da genômica (graças a Deus) que um novo livro se impunha. Foi o que fiz. A Editora FONTE VIVA o publicou.

11. Como escritor, qual o papel que a Biblioteca Espírita deve desempenhar dos Centros Espíritas
? Alguma sugestão? (A Aliança está fazendo uma campanha doando obras de seu acervo para casas que queiram iniciar o trabalho... por isso a pergunta).
— Ah!... as bibliotecas espíritas! Como eu as amo!
O ato da Aliança incentivar a criação de novas bibliotecas espíritas, não só nos Centros Espíritas, mas também para utilização das comunidades, é uma dessas iniciativas que, para mim, dúvidas não existem, fluem por inspiração do Mais Alto.
Invertendo um pouco os papéis, faço eu agora uma pergunta para a Aliança:
— Não será que essa estupenda quão abençoada sugestão não teria partido “em pessoa”, ou melhor, via intuitiva, do próprio Comandante Armond, para a Diretoria encarnada da Aliança Espírita?...

Caso queira acrescentar algo, fique a vontade.
— Agradeço a gentileza da Aliança ter lembrado do meu nome para esta entrevista.
Disse eu, certa vez, que a literatura espírita é assim como uma infinita e luminosa estrada, onde os caminhantes (leitores) vão encontrando sombra amiga de árvores, cujos frutos (livros), às margens, testemunham o trabalho voluntário de plantadores anônimos (autores espirituais, médiuns psicógrafos e autores).
Acrescento agora que, nessa estrada, a Aliança Espírita, assim como as demais Editoras espíritas, representam frondosos pomares.

                              Ribeirão Preto/SP – Inverno de 2003

                                                       Eurípedes Kühl

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